Como Aproveitar a Onda da Internet

Segundo a revista Veja, mais de 5 milhões de estudantes brasileiros já pertencem a uma rede social na internet, como o Facebook ou o Twitter (dados de 2009). Escolas vêm utilizando essas mídias sociais com fins educativos, além de colocar ali informações como calendário de aulas e avisos. Empresas também descobriram o potencial de marketing dessas e outras ferramentas da web. E a igreja, o que pode fazer?


O mundo pós-moderno representou o ambiente ideal para o salto mais revolucionário nas comunicações desde o uso dos tipos móveis por Gutenberg: a invenção da internet.


Apesar de sua quase onipresença no planeta, o mundo virtual é tremendamente pluralista e cheio de "verdades não absolutas" - qualquer um diz o que quer para quem quer, quando e como quer (o "onde" já não faz tanto sentido). É a democratização da informação.


Com pequenos investimentos (às vezes só de tempo e criatividade) e sem necessidade de concessões do governo, ao internauta compete apenas "brigar" por um lugar ao sol e atrair interessados em sua mensagem.


Essa "briga" alcançou o século 21 e subverteu o esquema emissor, mensagem, meio, receptor. A mensagem já não mais é monopólio de poucos.


O meio está disponível a qualquer um, não apenas profissionais de comunicação. E o receptor troca de lugar e se confunde com o emissor.


Todo mundo produz. Todo mundo consome.


Assim, o desafio é duplo: saber escolher o que consumir e produzir algo diferenciado que chame atenção num mar de conteúdos.


Em Livres por Natureza, o jornalista Paulo Bicarato diz que "as portas escancaradas de qualquer blog podem exibir desde críticas ácidas a determinados problemas sócio-políticos até baixarias (até então) impublicáveis. A liberdade internética inclui isso: cada um faz sua opção do que ver". É a mídia pós-moderna por excelência.


Correndo pelos cantos do mundo da informação, os blogs e sites de relacionamento, antes alvo de certo preconceito, conquistaram espaço e hoje ditam normas de comportamento, influenciam opiniões e até orientam algumas pautas dos veículos tradicionais. Estes se viram obrigados a voltar os olhos para o mundo virtual em busca de novos consumidores - e dos antigos muitos dos quais descobriram as "infovias" antes dos "jornalões" e acabaram ficando por lá.


A estrutura dos blogs permite que o usuário, além de publicar o que quiser, copie e cole links na sua página. Isso tem favorecido a interligação dos blogs, formando verdadeiras comunidades na web. No Brasil os blgs foram aparecendo lentamente no inicio de 2000 e já no fim daquele ano começavam a se formar as comunidades blogueiras que estão ativas até hoje.


Em 2006, já eram criados mais de 100 mil novos blogs por dia, segundo o estudo "Estado da Blogosfera" realizado pelo sistema de busca Technorati.


O aumento da blogosfera também levou à publicação de cerca de 1,3 milhão de posts por dia durante o terceiro trimestre daquele ano, média de mais de 54 mil novos textos por hora em toda a internet.


O português continua como sétima língua mais usada em diários virtuais com 2% da blogosfera, empatada com russo e italiano, e precedida por espanhol (3%), chinës (10%), japonês (33%) e inglês (39%).


O jornalista e professor americano John Batelle é um entusiasta dos blogs. Ele é um dos fundadores da revista Wired e colaborador do Boing Boing, o blog mais popular do mundo.


Para ele, blogs são conversas entre pessoas e ganharam importância justamente por isso. "Blogs são um tipo de mídia, e a mídia tradicional é tão ameaçada quanto fascinada pelos blogs", disse ele em entrevista concedida à revista Época, em 2007.


"Os blogs são o primeiro passo para que todas as pessoas alfabetizadas tenham sua própria plataforma no mundo. Um espaço onde elas possam declarar quem são, o que querem e o que pensam. … A internet é uma mídia poderosa no que diz respeito à mobilização. E é uma ferramenta sem fronteiras. Você pode alcançar pessoas em qualquer lugar."


E o que a igreja, o que pode fazer?


PÃO SOBRE AS ÁGUAS


Fazendo eco às palavras de Batelle, Marty Thurber, em artigo publicado na revista Ministry, de fevereiro de 2007, afirma que "distância não é problema; blogar pode ser descrito como 'a morte da distância".


A missão da igreja cristã é levar o evangelho a todo mundo, para que Cristo volte. Portanto, nesse caso, distância é, sim, um problema. Como evangelizar os mais remotos cantos do planeta? Certamente isso será impossível se ficarmos esperando que as pessoas venham até nossos templos ou que leiam nossos livros.


Outros meios de disseminação da mensagem têm que se somar aos tradicionais para vencer essa distância entre as pessoas.


Ellen White previu essa situação ao escrever, há um século: "Descobrir- se-ão meios que possam alcançar os corações. Alguns dos métodos usados nesta obra serão diferentes dos que foram postos em prática no passado. Temos que fazer uso de todos os meios lícitos para apresentar a verdade ao povo. Lancemos mãos da imprensa e ponhamos em ação toda propaganda que sirva para atrair a atenção do povo. Isto não deve ser considerado como sendo coisa de pouca importância" (Evangelismo, p. 129, 130).


Muito tempo antes, o sábio Salomão escreveu: "Lança ö teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás" (Ec 11:1). Os símbolos são claros para os que conhecem o linguajar bíblico: pão simboliza a Palavra de Deus; águas representam povos, multidões, nações e línguas (Ap 17:15).


Nestes tempos em que a Internet se firma como o mais poderoso meio de comunicação, o texto salomônico é ainda mais atual - sem contar o fato de que os internautas se referem ao ato de pesquisar na web como "navegar". Lance a Palavra de Deus entre as multidões que navegam nas águas virtuais. Se o pão for atrativo, algum navegante faminto será atraído por ele.


Mas como tornar o pão atrativo? A resposta também está no livro milenar de Deus, a Bíblia Sagrada: "O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo" (Hc 2:2).


A igreja e os líderes de jovens, especificamente, têm que aproveitar bem as "tábuas internétieas" para transmitir esperança de maneira atrativa e simples, para que os navegantes (na maioria, gente pós-moderna) possam ler mesmo que passem correndo. Quem sabe a corrida virtual deles não se transforma na real corrida da fé proposta por Deus (Hb 12:1, 2).


DICAS PRÁTICAS


Vanessa Meira realizava trabalho voluntário de moderadora da maior comunidade direcionada a jovens adventistas no, extinto, Orkut (que teinha quase 70 mil membros). Segundo ela, existem vantagens e desvantagens no uso da internet.


"A impessoalidade é uma desvantagem. Muitos estão se afastando do convívio com pessoas e acabam trocando o real pelo virtual." Mas ela garante que a abrangência e o acesso rápido são pontos positivos. "O Brasil é o país campeão de uso de sites de relacionamentos. São muitos brasileiros ligados a esse tipo de ferramenta. A Internet permite que você interaja com pessoas que, às vezes, não querem mostrar o rosto, mas que estão sofrendo e querem mudar de vida. Muitos jovens têm dificuldade de olhar nos olhos do pastor e dizer o que estão passando. Mas se expressam bem em um e-mail ou scrap."


Na prática, ela sugere: "O líder jovem pode criar um blog, um site, usar Twitter, o Instagram, Facebook, todas essas ferramentas para divulgar materiais religiosos, literatura boa, música edificante, produzir e conduzir debates a respeito de temas interessantes (fazendo o jovem buscar, pesquisar, estudar… é um estímulo mesmo)." E ela aponta uma das vantagens: "Estando presente [nas redes sociais adventistas], podemos ajudar, acompanhar e orientar mesmo. Além disso, você acaba conhecendo bastante os maus hábitos (e bons também) dos seus jovens num tweet ou post, encontrando exatamente a raiz do problema, da frieza e da preguiça."


Felipe Lemos, jornalista, blogueiro e assessor de imprensa da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista, adverte que é necessário navegar na Internet com moderação, ou seja, "não passar horas a fio na frente de uma telinha alienado do mundo ao seu redor". Ele também lembra que "nem tudo o que é publicado na rede é verdadeiro, puro ou faz bem para o intelecto e para a espiritualidade", Por isso, é importante informar-se muito antes de divulgar aquilo que se consome na web.


Segundo o jornalista, os jovens adventistas podem aproveitar a Internet para evangelizar de maneira prática, por meio de blogs com foco cristão, mensagens inspiradoras, além de boas músicas e sugestões de vídeos no YouTube, Facebook, Instagram, etc. Pode-se, inclusive, usar o Twitter para deixar mensagens rápidas sobre sites estratégicos e evangelísticos.


O escritor, advogado e blogueiro Denis Cruz também sugere: (I) crie um blog de sua comunidade jovem e poste notícias sobre os eventos locais e material de informações gerais. Poste fotos da sua turma, incentivando a participação de todos. (2) Pesquise e divulgue sites de pesquisa e estudos bíblicos em PowerPoint. (3) Uma vez que tenha um bom material de estudos biblicos em PowerPoint, envie mensagens de e-mail aos seus contatos, semanalmente, com esses temas (lembra-se da parábola do semeador?) ou simplesmente encaminhe links de blogs que já tenham esse tipo de material. (4) Participe de comunidades adventistas nas redes sociais [acrescentado].


O pastor, escritor e blogueiro Douglas Reis completa: "Usar essas mídias contribui para uma comunicação integrada (o que evitaria até 'engessar' o culto com muitos anúncios). Também se podem usar espaços restritos para treinamentos (listas de discussão, Moodle, etc.), principalmente na área de apologia e doutrinas. Esses espaços interativos podem, inclusive, proporcionar o diálogo com pessoas de outras crenças ou mesmo sem crença."


Como se pode ver, há um universo de possibilidades no uso dos recursos que a internet oferece. O mais importante, para o líder ou qualquer outra pessoa, é manter o foco quando for usar essas ferramentas.


A distração e o perigoso desvio de rota são inimigos sempre à espreita. Por isso, a comunhão com Deus e a guia do Espírito Santo é a garantia de que se está fazendo a coisa certa, seja no mundo real ou no virtual.


Texto de Michelson Borges, publicado no Manual Jovem pela Editora Sobre Tudo Ltda., Edição de 2012